por Carlos Merigo (link original)
Será que o mundo precisa de mais um serviço de streaming? Será que o salário de uma família comporta mais uma assinatura? Como resolver o dilema de uma indústria obcecada por hits quando cada vez mais vivemos a era do “só se fala em outra coisa”?
Andrew Wallenstein e Heidi Chung, analistas da plataforma de inteligência da Variety, trouxeram para o SXSW 2023 um estado do cenário tecnológico de mídia nos dias de hoje. Com dados de diversos setores de conteúdo – como filmes, TV, música, jogos, etc – eles não responderam essas perguntas, mas a descrição do ambiente atual nos ajuda a pensar alguns caminhos.
A corrida desesperada por mais assinantes você certamente já conhece, mas isso não necessariamente significa aumento da rentabilidade. Atualmente, a Netflix é a única grande empresa do setor a obter lucro. Wallenstein e Chung sugerem que serviços menores de streaming precisam considerar a consolidação para se tornarem mais competitivos. Resumindo: não, a renda média de uma família não dá conta de tantas assinaturas de serviço.
Os planos de assinatura com anúncios na Netflix tem potencial de sucesso, com capacidade de aumentar tanto base de assinantes quando rentabilidade. Ao mesmo tempo, existe um crescimento de serviços gratuitos de streaming inteiramente baseados em anúncios. Os principais players nesse segmento, como Hulu, Roku e Paramount, tem contribuído para atrair mais anunciantes para o mercado como um todo.
Porém, a competição pelos dólares publicitários é enorme. Todos esses serviços vão ter que competir com o que ainda se investe nos canais tradicionais de televisão. E vice-versa, claro.
Houve uma grande mudança nos hábitos de consumo de conteúdo, com a audiência de streaming ultrapassando a da TV a cabo pela primeira vez em agosto de 2022. E qualquer tipo TV, seja tradicional ou streaming, ainda precisará enfrentar a concorrência de plataformas como YouTube e TikTok. É o chavão: tudo aumenta exponencialmente na era digital, menos o tempo e a atenção humana.
Wallenstein e Chung citam que o grande trunfo das emissoras tradicionais ainda tem sido as oportunidades sazonais, como a transmissão de grandes eventos esportivos como Olimpíadas, Copa do Mundo e Super Bowl. Porém, nem isso mais é garantia. No ano passado, vimos a descentralização da exibição da Copa do Mundo no Brasil, com a Cazé TV transmitindo diversos jogos ao vivo no YouTube. O mesmo vale para outros campeonatos locais. Os streamings estão fazendo avanços significativos, como a Amazon agora tendo uma parte do pacote da NFL e a expectativa de que os direitos da NBA também sejam adquiridos por um streamer nos próximos anos. Aqui mesmo em Austin, a Apple tem promovido a sua transmissão na íntegra de todos os jogos da MLS, a liga americana de futebol (o de verdade, não o oval).
Para as TV a cabo, resta acelerar a transição para serviços de TV baseados na internet. Ainda que a atração de novos assinantes continue difícil num cenário de pulverização, pelos menos isso diminui os custos consideravelmente. De novo: a relação assinaturas vs. rentabilidade.
Já para os serviços de streaming – se descontarmos a desaceleração nas fusões e aquisições no setor de mídia – fica o desafio de diversificar as fontes de receita e a maldição eterna de sempre lidar com as mudanças nas tendências de consumo e hábitos dos consumidores. Afinal, cancelar uma assinatura está sempre a dois cliques de distância. Ainda bem.