Eu assisti neste último fim de semana esta pequena série com apenas 3 episódios sobre um dos caras mais brilhantes de nossa era.
Confesso que ensaiei fazer um resumo/análise do que vi, mas faltou tempo de escrever. Eis que acabo de ler esta resenha do sempre preciso Cardoso, no MeioBit, e concordo em 99,5% com ele, então decidi copiar na cara dura e compartilhar aqui a resenha. Enjoy!
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O Código Bill Gates – (Inside Bill’s Brain: Decoding Bill Gates no original) é um documentário de Davis Guggenheim, resultado de dois anos acompanhando Bill e Melinda, um retrato raro de uma das mentes mais fascinantes de nosso tempo.
Dividido em três parte de mais ou menos uma hora cada, o documentário foca muito no trabalho da Fundação Bill & Melinda Gates, no relacionamento dos dois e como Bill Gates se tornou Bill Gates. Não é um filme técnico, não perdem muito tempo mostrando as mesmas histórias contadas à exaustão em milhares de filmes e artigos. É um raro vislumbre em como a mente de Bill Gates funciona.
Isso rende uma deliciosa gargalhada de Melinda, no começo do segundo episódio, quando descobre o nome do programa. Ela descreve o cérebro de Bill como “caos”, “eu não gostaria de viver naquele cérebro”. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, e aquela veja imagem do Gates of Borg, criada no tempo do Slashdot (pergunte a seus pais) para zoar o Bill, no fundo é verdadeira.
O Código Bill Gates mostra um homem com uma mente analítica, com uma sede por conhecimento insaciável. Gates tira semanas de estudo onde se tranca em uma cabana e devora livros sobre os mais variados assuntos, seu cérebro se expande, consolidando informações de textos específicos e obscuros.
Bill trata problemas de forma extremamente lógica, o que às vezes faz com que ele inicialmente empaque, para em seguida absorver mais informação, enxergar o quadro geral e então achar a solução. Um bom exemplo foi quando seu programa de erradicação da poliomielite na Nigéria chegou a um ponto onde mais dinheiro não resolvia.
Estudando o caso, ele e sua equipe descobriram que havia um problema de mapas; boa parte do interior da Nigéria só estava registrada em mapas feitos à mão por exploradores ingleses. Com auxílio de satélites eles criaram todo um conjunto novo de mapas, e isso revelou que as equipes de vacinação estavam falhando nas fronteiras entre as regiões, uma achava que ali era responsabilidade da outra.
Embora teoricamente o filme seja sobre Bill, ele é a mais completa exposição sobre Melinda Gates, e crianças, que mulher, que mulher! Se Bill é o cérebro da operação, ela é o coração, ela adiciona Humanidade ao que Bill faz, ela o fez ver que há pessoas por trás dos números, que pobreza, doenças, escassez energética não são apenas problemas interessantes a resolver.
A maioria das pessoas, eu inclusive tem uma visão simplista de Bill Gates, e para muita gente Melinda era a programadora gatinha que se deu bem casando com o nerd desajeitado.
Nada mais longe da verdade. Melinda Gates é uma força da natureza, mas o segredo é que ela não é a grande mulher por trás do grande homem, nem a mulher forte na frente da relação. Ela é uma parceira em total igualdade, os dois se completam de uma forma incrível, complementando as fraquezas de cada um e formando uma dupla invencível.
Nem tudo são flores, e por mais que O Código Bill Gates seja bem generoso com seu protagonista, é detalhada a época em que a Microsoft virou o Império do Mal, quando Bill Gates exigia que todo mundo fosse tão obcecado com trabalho quanto ele. O maníaco decorava as placas dos carros dos funcionários, para olhar pela janela e ver quem estava trabalhando.
A piada corrente era que a Microsoft era uma empresa de meio-expediente, pois você podia escolher quais 12 horas do dia passaria fora dela.
A investigação anti-monopólio feita pelo Governo dos EUA, que quase desmantelou a Microsoft também é mostrada, e hoje Bill reconhece que foi ingênuo em sua defesa intransigente da empresa, mas ainda insiste, com razoável razão que não há como a Microsoft ser um monopólio se ela pode ser destruída por uma inovação tecnológica de um concorrente. (você não, Linux)
Uma parte razoável do documentário é gasta mostrando as pesquisas financiadas pela Fundação Gates para desenvolvimento de banheiros para o Terceiro Mundo, com alguns racionais óbvios mas que ninguém pensa: Nenhuma cidade de país pobre vai investir em saneamento de áreas muito pobres, é simplesmente caro demais, destruir comunidades inteiras para instalar encanamento. Os cientistas de Bill então desenvolveram banheiros que não precisam de água, e ainda transformam a eca em combustível.
Em outra área, ele criou a TerraPower, uma startup que está projetando um reator nuclear que por design é impossível de explodir, e usa como combustível o combustível exaurido dos reatores nucleares convencionais. É um projeto que quando der certo vai eliminar a necessidade de usinas termoelétricas em todo o mundo.
Que Bill nasceu com um cérebro privilegiado não há dúvida, mas como todo bom geneticista pode explicar, criação é muito, muito importante, e no documentário vemos como os pais de Bill foram exemplares, desde cedo estimulando leitura, estudo e principalmente participação na comunidade. Maria Gates sempre foi envolvida com filantropia e projetos sociais, isso resultou em um sujeito que amealhou uma fortuna considerável, e na hora de gastar dinheiro construiu… uma casa.
Bill Gates foi um dos primeiros bilionários a não torrar investir seu dinheiro em mulheres rápidas e cavalos lentos, dizem que nem iPhone ele tem 😉
O documentário pinta uma imagem boazinha demais de Bill, quando contam como ele e Paul Allen escreveram o software de gerenciamento de salas de aula do distrito escolar, o diretor omitiu o fato de que Bill incluiu no software uma rotina para colocar na mesma sala que ele as colegas que achava mais gatinhas.
O Código Bill Gates mostra um Bill que pouca gente conhece, por causa das simplificações já mencionadas. Para um monte de gente ele é rico então automaticamente é FDP, para outros é um ricaço que quer ganhar aprovação social ajudando os pobrinhos escurinhos. Outros dizem que ele tem complexo de messias e quer ser visto como um santo.
Não é nada disso. Bill Gates é um homem que tem mais dinheiro do que precisa, mas mais importante: Ele não encara filantropia como um buraco onde você joga o dinheiro lava as mãos e acha que salvou o mundo. Ele acompanha cada projeto, cobra resultados, altera especificações e redireciona recursos. Ele não faz caridade, implementa soluções.
Bill Gates adora resolver problemas, e para sorte dele problema é o que não falta no mundo.
Na Netflix, uai. É só clicar aqui, ou buscar na App.