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A Orkutização do Linkedin

Costumamos utilizar a expressão “Orkutizar” para tudo aquilo que acaba virando banal e sem sentido, no melhor sentido da expressão. O Orkut começou bem, teve seu auge e depois de alguns anos reinando sozinho, virou um enorme armazenador de gifs animados chatos. E só. Por isso acabou.

Pois bem, eis que o Linkedin está indo pelo mesmo caminho (pelo menos aqui no Brasil). Vários relatos recentes de mulheres (por exemplo) denunciando assédio já confirmam que as pessoas não sabem (mais) para o que a rede serve.

Vi há pouco uma frase bacana (desculpe, não lembro quem a postou ou o autor): “O brasileiro conseguiu estragar duas coisas que funcionam MUITO BEM no mundo todo: O Uber e o Linkedin”. 

Infelizmente é isso mesmo. Pesquisando sobre o assunto, achei um artigo do Eduardo Carone que fala sobre isso, ou melhor, descreve 10 “sintomas” do que afirmo acima. Vou descrevê-los “na íntegra” porque expressam muito bem o que estamos presenciando nesta rede profissional (ou que deveria ser, pelo menos):


Steve Jobs costumava dizer que o cliente não sabia o que queria, até que a Apple mostrasse a ele. É uma forma delicada de dizer que o cliente na média não é uma pessoa brilhante (fui delicado também).

Quem trabalha com TI ou outro tipo de suporte, tem a mesma visão do usuário em geral.

Pois bem. O Linkedin decidiu deixar que o usuário/cliente fosse o responsável pela criação da totalidade ou quase totalidade do conteúdo que circula na ferramenta, sem qualquer tipo de critério.

Essa decisão vem, dia a dia, corroendo a qualidade do LinkedIn como veículo de relacionamento profissional. O conteúdo vem se deteriorando drásticamente, e os usuários deveriam começar a avaliar se o conteúdo ruim/péssimo já superou o conteúdo bom.

Junte essa “democracia” com a falta de brilhantismo já comentada, e o resultado está descrito em 10 capítulos abaixo:

Capítulo 1 – As falsas frases inspiracionais

A receita é simples: coloque uma frase inspiracional em cima de uma foto, e escreva o nome da pessoa fotografada logo abaixo.

Centenas de frases inspiracionais falsas circulam hoje pelo Linkedin. O interessante é que o fato da frase estar dentro de uma imagem confere certa credibilidade a ela, talvez porque o usuário médio não brilhante tenha dificuldade de usar o Paint no Windows.

No Brasil, Carlos Drummond de Andrade, Erico Veríssimo e Arnaldo Jabor são praticamente campeões em aparições em frases inspiracionais. Mas tem de Silvio Santos a Steve Jobs (que frequentemente aparece valorizando pessoas e suas opiniões, o que não condiz de forma alguma com a vida profissional que ele praticou, ao menos segundo as biografias existentes).

Capítulo 2 – As contas e enigmas

Quantos “enigmas que apenas 5% dos alunos de Harvard conseguiram acertar” você já viu no seu LinkedIn?

E quantas pessoas você viu respondendo?

Agora, duro é quem acredita que esse teste foi passado em Harvard e que só 5% dos alunos acertou. Tem um lado interessante, faz você se sentir mais inteligente que os alunos de Harvard. Bom, a realidade é basicamente o extremo oposto.

Capítulo 3 – As planilhas milagrosas

Esse Post na imagem é real. Como vários outros, desde planilhas de mágicas com gráficos até planilhas que avaliam automaticamente candidatos à entrevistas.

E o mais interessante: por mais ridículo que seja o texto da imagem acima, mais de 5 mil pessoas colocaram seus e-mails para receber essa planilha. É a prova concreta de que ninguém nem lê essas coisas, simplesmente coloca o e-mail porque viu gráficos bonitinhos em uma imagem.

Capítulo 4 – O trabalho em casa nas horas vagas que paga bem e não afeta o seu emprego atual

Talvez seja possível que exista algo assim, mas trabalhar de casa, nas horas vagas, quando quiser, passar mais tempo com a sua família, ter liberdade e mesmo assim ganhar dinheiro deve ser uma realidade escassa, para poucos.

Exceto no LinkedIn. Lá tem umas 500 oportunidades dessa por dia.

Capítulo 5 – As listas “Se você quer…” “…escreva SIM nos comentários”

SIIIIIIMMMMM! Dezenas, centenas ou milhares de pessoas escrevem SIM nos comentários, muitas delas sem nem ao menos entender direito o que é oferecido (em muitos casos, de forma falsa) no LinkedIn. Boa parte destes anúncios é sobre ir trabalhar no Canadá. Bom, se estão gostando deste artigo, por favor escrevam SIM nos comentários!

Capítulo 6 – A farra dos cargos e habilidades

Até o ano de 2000, um recém formado era normalmente um assistente em uma empresa. A partir daí, recém formados passaram a ser chamados de Trainees. Hoje, a maior parte dos recém formados é Founder ou CEO, cargos que deveriam remeter experiência, e na vida real vemos o oposto de experiência.

Há ainda pessoas buscando emprego que colocam cargos altos como descritivo, algo como “CFO/CEO para grandes empresas”. Quando você lê o histórico de cargos desta pessoa, ela foi coordenadora financeira no emprego anterior.

Por último, mas ainda neste capítulo, todo mundo atesta que todo mundo tem experiência em tudo no Linkedin. Basta aparecer o botão que todo mundo clica. Aí você vê gerente de TI com experiência em reestruturação bancária, gerente de RH que manja de linguagem C#, e por aí vai…

Capítulo 7 – Eu não te conheço

Quando terminar de ler este arquivo, faça um teste: aqui mesmo no LinkedIn entre na lista dos seus contatos. Quantos deles você realmente conhece? Com quantos conversou, mesmo que por telefone? Mesmo com quem você nunca falou, com quantos trocou uma mensagem? Um e-mail? A realidade é essa: hoje todo mundo adiciona todo mundo e tem orgulho de ter “uma rede com 100.000 contatos”. A verdade é que essa pessoa não tem contato nenhum. Nenhum desses “contatos” vai receber uma ligação, ou receber a pessoa para uma reunião. Não são contatos, você não os conhece.

Capítulo 8 – Os depoimentos, desabafos e empregos

“Fiz uma entrevista hoje bláblábláblá, não fui contratado”. Invariavelmente houve algum tipo de preconceito, todo mundo se solidariza, e faz questão de repudiar o preconceituoso em questão nos comentários. Novamente, pouca senão nenhuma relevância profissional

Capítulo 9 – Os empregos

Bom, este capítulo vai ficar em branco até alguém escrever um comment dizendo que conseguiu um emprego através do Linkedin. Eu não conheço ninguém nessa situação, então não tenho o que escrever. O máximo que eu vejo é uma mulher bonita pedindo para dar like na foto dela para aumentar as chances de ela arrumar emprego.

Capítulo 10 – O futuro do Linkedin

Para quem não sabe, em junho de 2016 o Linkedin foi vendido para a Microsoft por US$ 26 bilhões.

A Microsoft é uma empresa notória pelos seus produtos Windows e Office. Apesar da aquisição ter sido feita em junho, ela só foi aprovada pelas autoridades competentes dia 08 de dezembro de 2016, conforme post do CEO do Linkedin:

Esta é a razão pela qual até o momento ainda não fomos inundados com ofertas do Office e do Windows, mas não há dúvidas de que elas virão. Mas a única razão lógica para se comprar o LinkedIn por este preço é exatamente essa. Pelo retorno financeiro não pode ser:

Até 30 de junho de 2016 o LinkedIn registrou diversos trimestres de prejuizo. No terceiro trimestre de 2016, convenientemente após o anúncio de aquisição pela Microsoft, o LinkedIn deu US$ 8,6 milhões de lucro. Explico o “convenientemente”: normalmente após uma aquisição onde as premissas de crescimento e lucratividade não condizem com o histórico da empresa, há uma cláusula chamada EARN OUT. Esta cláusula diz que o preço pago será válido se a empresa atingir no futuro os resultados projetados. Bom, aparentemente os resultados viraram na hora correta.

Por que a decisão da Microsoft não foi financeira baseada no LinkedIn como ele é hoje? Vamos supor que daqui em diante o lucro do Linkedin vai passar a ser de US$ 100 milhões por trimestre (12 vezes o que foi registrado no 3T2016). Ainda assim a Microsoft levaria 65 anos para receber de volta seus US$ 26 bilhões. Deixando na poupança em um banco brasileiro, o dinheiro voltaria em 15 anos. Num título público americano, em uns 30 anos. Mais retorno, sem risco e sem trabalho.

Retomando o tema futuro: em 2017 espero receber muita propaganda do Office e de parceiros da Microsoft no Linkedin, para que a conta que a Microsoft fez (seja qual for) feche.

Para fechar o artigo, abaixo um slide publicado pelo próprio LinkedIn em uma recente apresentação a seus investidores:

A proposta de valor do Linkedin é baseada nestes 3 pilares. O primeiro pilar foi o grande alvo deste artigo. Não estamos nos informando, estamos respondendo a enigmas, pedindo planilhas milagrosas, e outras inutilidades. O segundo: não estamos conseguindo emprego no LinkedIn (agradeço se as pessoas que já conseguiram possam postar essa informação nos comments abaixo). O terceiro: Não vejo o LinkedIn como ferramenta de trabalho. É basicamente uma rede social que deveria ser profissional, mas pelos 10 capítulos acima confesso que não acredito que este propósito está se cumprindo.

Me resta agora avaliar se tenho algum retorno pelo tempo que o LinkedIn me toma, e se isso vai piorar com a nova dona (Microsoft). Se a relação for de prejuízo, melhor encerrar a minha conta e encontrar outro lugar para publicar artigos. (por Eduardo Carone)

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Rodrigo Afonso
Rodrigo Afonso
Sim, eu que mando na bagaça aqui.

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